Destino

Na verdade, penso que pela primeira vez na vida não sei como expressar o que estou sentindo.
Me recordo das diversas vezes que meus amigos me perguntaram como eu fazia para escrever porque eles não conseguiam começar nenhum texto e hoje me encontro exatamente nessa situação.
Talvez eu devesse começar pelo dia em que te conheci mas, eu realmente não consigo me lembrar de como isso aconteceu. Em minha memória passam imagens de um pirralho com uma camiseta do beatles em um site qualquer e lembro de pesquisar mais coisas sobre ele e estranhar o fato dele ter um bom gosto. Eu nem pensei em adicionar, nem pensei em dizer um oi, apenas deixei para lá.
Dizem por ai, que a vida é um ciclo e que nada é igual e as vezes quando penso em algumas coisas sinto que isso é verdade, como se nós fossemos caminhando e repetindo aquilo que já vivemos ou que alguém viveu, e hoje quando eu vi você, aquele pirralho crescido, aconteceu mais uma vez.
Queria poder definir o que aconteceu, porém, tudo o que consigo pensar agora é em seu rosto encostado no vidro desse ônibus velho e na tranquilidade que você parece estar ouvindo essas músicas que eu tanto queria descobrir quais são. Não tenho coragem de te olhar nos olhos, muito menos de dizer aquilo que eu realmente sinto, então, apenas sinto. Quando você me olha, mesmo que por um instante, seus olhos brilham como se tudo fizesse sentido e eu não precisasse mais de palavras ou qualquer outra coisa inútil.
O mundo gira devagar e todo o resto não importa porque quando você sorri, provocando essas dobrinhas perto do nariz, eu sinto vontade de sorrir também. E o mundo continua passando do lado de fora desse ônibus e eu nem me importo porque o destino que eu tanto almejo chegar está aqui, está em você.
Dizem que o amor te tira do chão e te faz voar, sempre achei isso tão poético, porém, confesso nunca ter encontrado um real sentido nessa frase, mas quando vejo que você percebe minha presença eu não penso em voar e muito menos em continuar na terra, apenas penso em como deve ser te ter, em qual deve ser seu cheiro ou o que te deixa feliz. Minha única certeza é que durante esses pensamentos o ônibus continua andando e o mundo girando.
Enquanto vivo minhas ilusões alguém vive a realidade que eu nunca terei coragem de se quer tentar viver. Mesmo assim, quando pelo reflexo do ônibus eu vejo seu rosto, quando vejo o contorno perfeito da sua boca e como tudo em você se encaixa tão bem, parece que toda ilusão se torna real e tudo parece tão mais simples e feliz. E nas minhas maiores loucuras penso em como seria estar com você, no que poderia acontecer daqui pra frente e se um dia eu terei coragem de dizer o que realmente penso sobre você, sobre nós.
O ônibus chega ao seu destino mas meu coração não.

Sonho e realidade

[Procurei uma música para esse post e escolhi deixar o silêncio]

Como é viver a realidade? Como é poder abrir os olhos e ver que tudo aquilo que realmente existe?
Tenho confundido meus sonhos com a realidade e preciso confessar que não sei se desejo voltar a abrir meus olhos. Porque quando eu te vejo em meus sonhos, tudo faz um sentido absurdo, minha alma se aquece e eu não me sinto perdida, em meus sonhos eu faço parte de um mundo onde eu me encaixo, um mundo em que tenho alguém para contar e para onde fugir; Enquanto na realidade eu não tenho um porto seguro, um lugar para colocar meus pés.
Nos meus sonhos quando você me abraça, eu sinto seu cheiro e ele me lembra aconchego e eu sei que posso ser quem realmente sou, posso amar, ser sincera sem o medo da dor e do engano porque nos meus sonhos eu me sinto protegida com você, me sinto em paz.

Mas eu sei que já é o momento de abrir os olhos, já é a hora de encontrar a tal senhora razão e com passos curtos vou caminhando em direção a ela.
Meu corpo me manda mensagens dizendo para desistir e permanecer com os olhos fechados, lutando com minha própria vontade começo a correr em direção a minha maior inimiga, a realidade.
Quando minhas forças se esgotam eu caio e sinto meu joelho latejar, a dor é aguda e me ajuda a ficar distraída por alguns segundos. A lua está no centro do céu iluminando tudo ao meu redor e por mais que force meus olhos para enxergar ao meu redor não vejo nada.
Conforme vou caminhando vejo sucatas espalhadas e sinto o vento congelante tocar meu corpo e o desespero bate mais uma vez fazendo minha alma ficar aflita. Recupero as forças e começo a correr desesperadamente em busca de algo ou alguém e quanto mais corro mais vazio eu encontro.

…

Abro os olhos e vejo o sol entrando pelas frestas da cortina, vejo algumas roupas jogadas em cima da velha poltrona amarela e tenho certeza que estou no meu quarto.
-Tudo não passou de um sonho, digo para mim mesma.
Pelo menos é o que eu gostaria de acreditar porque sei que na verdade eu sou todo aquele vazio desesperador e também sei com toda convicção que mesmo tentando abrir meus olhos, não vou conseguir me livrar disso. Não me sinto forte o suficiente. Não estou forte o suficiente.